Delegado Lucas Torres comenta situação da Praça Jonas Ferreti
Um dos principais nomes do
município de Buritis cotados para concorrer à uma cadeira na Assembleia
Legislativa de Rondônia, o delegado de Polícia Civil Lucas Torres, comentou em
um grupo social a preocupante situação que se encontra a Praça Municipal Jonas
Ferreti.
Alguns
cidadãos relatavam sua insatisfação e medo de frequentarem a referida praça com
seus familiares por causa do aumento de indivíduos sem moradia e emprego que se
fixaram naquele espaço. Diante da aparente falta de ação do poder público para
resolver o problema, alguns membeors do grupo questionaram a providência da
prefeitura e da polícia no caso. Alguns relataram o forte odor de urina,
consumo de bebida alcoólica e brigas e outras ocorrências desagradáveis que tem
se tornadas rotineiras na Jonas Ferreti. O delegado fez a sua inteiração
definindo o papel da polícia e a necessidade de políticas sociais que combatam
a causa e não a consequência. Leia a opinião de Lucas Torres:
"Bom dia pessoal.
Acompanhei a conversa do grupo sobre os
moradores de rua que estão se aglomerando na praça e não posso me furtar ao
debate. Portanto, vou tentar explanar um pouquinho da minha opinião sobre o
assunto, com todo respeito aos que pensarem diferente e sem nenhuma pretensão
de exaurir a discussão sobre o tema.
Primeiramente, não penso tratar-se de uma
problemática de competência resolutiva das Polícias, no caso, Polícia Militar
ou Civil.
É natural, pela nossa cultura, que surja um
ímpeto em todos nós em acionar a Polícia ao nos depararmos com situações como
estas, como se fosse um caso a ser enfrentado exclusivamente pelo setor da
segurança pública. Afinal, a sensação de segurança nos locais que se tornam
reduto dessa parcela marginalizada de pessoas, costuma diminuir drasticamente.
Inclusive com o aumento nos índices de crimes tais como furtos, posse de drogas
para uso, tráfico de drogas, privilegiado ou não e contravenções penais como
importunação ao sossego, dentre outros. Um exemplo parecido, conforme
mencionado aqui no grupo, é a praça de Ariquemes, em frente a rodoviária.
Dito isto, fica fácil entender, em um
primeiro momento, o motivo pelo qual se atribui a responsabilidade de
solucionar este problema aos setores voltados à segurança pública. Aquilo que
nos causa insegurança, o braço armado do Estado age e segrega do nosso meio,
retirando do convívio da sociedade. Certo?
Com todo respeito, essa é uma conclusão
equivocada, e explico o meu ponto de vista.”
O papel das polícias nesse contexto
“Enfrentar este problema exclusivamente com
uma atuação policial é tentar criminalizar um problema de ordem social,
combatendo apenas a consequência, ao
invés da causa.
Este tipo de atuação configura o que
costumamos chamar de enxugar gelo.
Caso a Polícia Militar seja acionada para
comparecer no local dos fatos e conduzir todos os alcoólatras, usuários de
drogas e moradores de rua que se amontoam na praça ou, ainda, que se espalham
pela zona urbana das cidades, sem medo de errar, no dia seguinte (ou antes,
ainda) estes mesmos indivíduos estarão de volta às ruas, nas mesmas condições
que estavam anteriormente.
Para a Polícia Civil, a situação é
complicada um pouco. A atribuição precípua da PC é combater o crime através do
policiamento repressivo, ou seja,
após a prática do crime, tratando-se de uma polícia investigativa, que tem sua
atividade-fim voltada para a elucidação de crimes já praticados.
Neste contexto, não custa nada lembrar que
não possuir residência nem emprego e ser dependente químico não configuram, com
supedâneo na legislação hodierna em vigor, condutas consideradas criminosas.
Em curtas linhas, a PM não pode resolver o
problema efetivamente, pois caso tire coercitivamente estas pessoas da área,
tal ação não impedirá o retorno dos indivíduos ao local. Por focar na
consequência do problema, conforme dito anteriormente, a Polícia Civil só pode
agir após a prática de algum crime, repressivamente, como tem atuado sempre que
toma conhecimento da prática de algum ilícito criminal. Ou seja, apenas com
segurança pública, dificilmente se combate esse problema, iminentemente social,
de forma eficaz.
Dito
isto, de nada adiantaria eu escrever tantas coisas aqui para apontar apenas o
óbvio (um problema de conhecimento de todos) e apenas dizer o que não resolve o
citado problema.”
Situação dos moradores de rua requer
políticas sociais de resultados
“Precisamos pensar soluções e, nesta linha,
acredito que existem bons exemplos no País afora, adotados em outras cidades,
que têm apresentado excelentes resultados.
Cito, neste sentido, o projeto Redenção,
implantado na cidade de São Paulo no início de 2017, com o objetivo de acabar
com as denominadas Cracolândias.
O sucesso do programa, em grande parte, se
dá ao fato de que a administração pública parou de tratar a problemática como
de atribuição única do segmento de segurança pública, enfrentando a situação
nos aspectos da:
*Saúde (medicinal);
*Social
(assistência social e cidadania);
*Operacional (urbanístico e zeladoria);
*Educacional (campanhas em escolas) e também, mas não exclusivamente,
*Policial (segurança pública).
Há farto material sobre o referido projeto
disponível para consulta na internet e, ao final deste comentário, vou postar
um link com as diretrizes do projeto, para quem tiver a curiosidade de conhecer
um pouco mais.
Embora tenha sido desenvolvido para a maior
cidade do País, acredito ser possível adequar o projeto e desenvolver algo
semelhante para o nosso município, conforme suas particularidades. Inclusive,
caso a demanda seja pequena, é possível regionalizar o projeto e assim abranger
outros municípios que experimentam situações similares, atingindo uma parcela
ainda maior de população e beneficiados.
Bem, era essa a minha opinião sobre
assunto. Acho o tema muito interessante e muito grave, pois a situação atual
incômoda a todos os munícipes, parcela na qual me incluo. Por isso fiz questão
de trazer minha parcela de contribuição, sem o intuito de exaurir o assunto ou
encerrar o debate, pois o meu é apenas um ponto de vista dentre vários outros.
Parabenizo o grupo por trazer debates
relevantes para a nossa comunidade, de problemáticas que precisam ser
enfrentadas para o fortalecimento e engrandecimento da nossa cidade.
Desculpem por ter me prolongado demais. Fiquem
todos com Deus!
Lucas
Torres.”
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