Na era dos Smartphones, Curupira arrega e IBAMA toma conta


E já é de um tempinho bem contado que não se houve mais por aqui das peripécias de um tal ser chamado Curupira, montado em seu javali ou porco-do-mato, ou queixada, ou catete, ou sei-lá-o-quê de parente de espírito de porco, que tocava o terror nas florestas desses trópicos. Vai longe o tempo que o ser fantasioso das lendas urbanas dos índios da mata aprontava e desaprontava com seus pés cascudos, de calcanhar pra frente num vindo-que-fui  num fui-que-vim  sem fim, deixando desnorteado até o mais experiente singrador de mata fechada desconhecida . O ruivo de cabelo de fogo dentro do mato escuro, de assovio invocador das jararacuçus e surucucus, assanhadas para o bote do último assalto, bicho peçonhento do inferno verde.
Quantos caçadores infelizes tiveram a desventura de borrar as calças ao encontrar o tal espírito que, de acordo com os relatos nada verdadeiros de supostos sobreviventes, vinha batendo seu pan pan pan no tronco das árvores, até dar de cara com o matador da vida dos bichos da floresta. Aí, era um olhar nos olhos de deixar o caçador desatinado, perdido dias a fio, dando rodeios no mato a poucos metros do descampado salvador. Era o olho de fogo do “coisa ruim”.
Mas os tempos são outros e o sujeitinho cavalgador de filho de porca com porco deve ter se rendido aos tablets e smartphones de última geração, a pois que os meninos de hoje não se aperreiam com essas historinhas caipiras e são bem capazes de se aventurarem na mata para capturar o tal Curupira para suas selfs. Há de se crer também que o tal coisa montador de porco acabe se tornando o passado crushado de adolescentes inconseqüentes, esmoler de curtidas e “me vejam”.
Curupira arregou. Espantado pela audácia da nova geração foi se amoitar no fundão da mata, lá para o grotão, onde povoa a onça pintada, de mais de meia dúzia de palmos de largura nos lombos gordos das carnes das antas e capivaras, das pacas, tatus e cutias não. Não quer nem saber dessa gente maluca que filma até fantasma sem a capa branca, só com os buracos das bolotas do olho, que de olho não tem nada. Sumiu para não perder o respeito.
Agora anda nas paragens no faro do agressor à mãe-natureza, IBAMA. Em suas caminhonetes mais velozes que um queixada. Protetores da mãe-natureza, mãe que devia alimentar seus filhos, cheia de não-me-toque-não-me-rele, não passe-daí-pr’aqui, pois os filhos lhe têm faltado com o respeito.
Vai IBAMA, na vez do Curupira, à espreita do caçador de tatu que seja, do derrubador de mata e, para estes surpreendidos no labor, a sina é a mesma. É perceber o frufru das folhagens no mato, o crepitar dos gravetos quebrados pelos passos macios do coturno verde-oliva e se põem em desabalada carreira, como uma manada estourada de queixadas, num salve-se-quem-puder que a Florestal deu no acampamento. Nem Curupira seria tão mais aterrorizante. E eis aí alguns desbenditos passarem alguns dias nos arrodeios do maldito cipó desvirtuador de caminho certo, beirando às armadilhas da floresta conspiradora.

IBAMA não precisa ler as estrelas nem os sinais da floresta. IBAMA tem GPS e equipamentos de última geração, ligados com uns apetrechos no além-nuvem, na imensidão celeste, onde nem os urubus ousam reinar. IBAMA ser mais eficiente que Curupira. Curupira a muito virou lenda. Nem boi dorme mais com suas historinhas.

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