Vivo ou morto, tudo é poeira!

Eita, olha nós aqui de novo para mais uma balaiada, heim. E hoje falaremos de poeira. Todo mundo já está com calo nos ouvidos de ouvir as máquinas e caminhões do DER e da Prefeitura (Aleluia! Aleluia!) roncarem pelas ruas da cidade. Cavaram, raparam, rasgaram, entupiram e aí... pah!: Poeira.
Gente do céu e da terra, se antes vivíamos nos esquivando dos buracos e lama, agora vivemos fugindo das baforadas de poeira fungadas por qualquer pé-de-ventinho vagabundo que resolva bailar nas nossas ruas. Outro dia deixei meus filhos brincarem na rua, quando retornaram eu não sabia se eram gente, bicho, ET, cupinzeiro de pasto ou torrões de barro...
E quando a gente vai andando pela rua e vem um caminhão a toda por hora. Misericredo! O motorista parece que percebe a nossa angústia e aí que ele afunda o pé no acelerador mesmo e vem escurecendo tudo com o maço de poeira, fumaça e barulho. Não é a toa que ele pagou mais de R$ 2000,00 numa CNH, depois de ter passado num exaustivo teste psicotécnico, fazer mais uma tacada de aulas teóricas, alugar caminhão para as Práticas... Agora tome seu insignificante pedestre!!!
Os caminhões-pipas não dão conta. É muita poeira para os caminhõezinhos.
Teixeirão disse, e eu acredito, pois quando ele diz a verdade, ele não mente. Disse-me que é triste e desolador do alto do Setor 04 contemplar o entardecer do Setor 10. Pois o que se vê é uma nuvem (não é de poder e nem de glória), uma nuvem de poeira, alaranjada pelos últimos raios solares descambando no horizonte, sobre as matas das quebradas da Fazendinha.
Mais triste e desolador ainda é ver, no meio de tanta poeira, os cortejos fúnebres que seguem para o cemitério por esse caminho. Vão sendo engolidos pelo fumo-laranja, como que enterrados vivos, com seus choros e lágrimas. Parece que, tal qual seu morto, não voltarão mais. Como diria seu Omar: Trágico!
Quando a alma buritisense chega aos portões eternos para seu descanso glorioso, o anjo fica até confuso:
- Uai, quando Deus disse que ao pó vós retornaríeis, ele não disse que vós seríeis almas empoeiradas.
Aí, a alma buritisense, desejosa do repouso eterno, responde humildemente:
- É que lá em Buritis, seu anjo, as coisas estão um pouco complicadas. É poeira para tudo que é lado. Nossos entes queridos nem podem chorar nossa passagem direito, porque em vez de escorrer lágrimas, escorre é lama dos olhos deles. Ninguém merece isso, seu anjo.
- Mas, e a Águas de Buritis?
- Tá lá, coitadinhos, arrumando um caninho aqui, outro ali... sacomé, nem. Foco e fé que uma hora dá pé.
- E o prefeito Dico? O prefeito bem que podia mandar um caminhão-pipa aguar todo santo dia a estrada do cemitério.
- kkkkkkkk! Nem te conto, seu anjo, o que a mulher dele fez com ele...
- Ih, é mesmo é?! Vem, entra logo. Toma um banho ali no chuveiro da graça, viu. Enquanto isso vou chamar a anjaiada para ouvir o caso. O anjo Gabriel vai gostar. Ele é o anjo das boas novas...


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