Família no parque... ponto, na outra linha, parágrafo.

Bem, então acompanhei minha esposa e meus filhos ao parque de diversão que anda arrancando dinheiro do pessoal aqui desde o ano passado. Minha intenção era despachá-los num daqueles brinquedos ali enquanto terminaria meu monólogo diálogo romântico entre a tentação da Jumenta Visionária de Balaão e a Serpente Maldita do Éden. Haja vista que a Serpente Maldita do Éden tem andado muito gabola de suas habilidades de derrubar bípedes e desafiou esse famoso quadrúpede do mundo antigo bem antigo para o duelo. A Jumenta Visionária já disse que... Oras, estou desenvolvendo o papo aqui. Voltemos ao que interessa: Minha família no parque ponto, na outra linha, parágrafo. Letra maiúscula.
Robert esperando a hora de passar mal
Pois é. Quando chegamos ao Parque que-eu-não-sei-o-nome, estavam todas aquelas luzes piscando, aquele som soando, aqueles gritos gritando, o odor de borracha queimada com o cheiro gostoso de pipoca cheirando. As pancadas e chiadas dos brinquedos. Fiquei olhando aquilo tudo ouvindo e esqueci que queria um tempinho de sossego para terminar meu romance quase impossível. Fomos à bilheteria.
- Quanto custa o bilhete para andar nessas geringonças?
-Um é cinco "real", seu moço. Mas se comprá cinco paga vinte "real". É a promoção.
- Então taca cinco pra cá.

Fui olhando aquelas caixas cheia de gente berrando desesperadamente como almas nas gaiolas do inferno, sacolejando e falando palavrões, alguns arrependidos por ter entrado naquilo.  Minha mulher ficou assustada. Não ia entrar em nenhum brinquedo. Nem naquele de cavalinhos puxando carrocinhas em círculo. Sendo assim, calei a Jumenta e a Serpente. Ficariam as duas caladas no meu bloco em branco esperando a tinta meter-lhes as palavras nos beiços.

Filhota e seu priminho... Não me deixaram andar num desses.
Meu filho, corajoso como o pai dele, decidiu divertir-se só nos tais carrinhos bate-bate. Deus o abençoe sempre. Mas minha filhota tinha sonhos mais altos (mulheres). Juntou-se com uma coleguinha e do bate-bate foram para o Surf. Meu coração disparou. Do surf quis ir para aquela barca dos piratas. A amiguinha saiu fora e ela ficou tristinha. Fiquei com dó e disse:
- Não fique assim, filhota, papai aqui vai com você.
Ai, ai, ai se arrependimento matasse...
Subimos naquela coisa esquisita. Aquele troço começou a chiar. Comecei a orar. Mas Deus não é muito chegado nesses ambientes e Ele não atendeu meu pedido para a energia acabar ou aquele troço pifar. Queria me dar uma lição. Aquela coisa começou a balançar de um lado para o outro. E foi subindo. Foi subindo. Chiava e subia. Subia e chiava. Minha filha e a trupe inteira gritavam: Uhuuuuu!
Briguei com ela.
-Cala boca menina!
A barca maldita
Ela se divertia. Eu sofria. Meus dedos travaram no apoio de tal maneira que nem Sansão os arrancaria dali. O vai-e-vem do brinquedo me botou medo. Fiquei com medo de vomitar, de desmaiar, de me molhar, de me borrar... Percebi que minha idade já não permitia ao meu corpo esses movimentos de contendas com a gravidade. E nada do operador parar de acelerar aquela coisa. Parecia que o inimigo estava usando ele para me atormentar. Por fim, ele parou de dar impulso na máquina. Mas aí é que o negócio ficou feio de verdade. Aquela barca embalou e não parava mais. Com aquilo nós já estávamos passando por cima do teto do Supermercado Gonçalves. Ai, ai, ai... Cada descida meu estômago vinha à boca. Nunca os senti tão próximos. Num esforço heroico, abri meus olhos, olhei para minha mocinha ali ao meu lado e balbuciei:
- Minha filha, quando nós sairmos daqui me lembra de te dar uma surra que é pra você nunca mais colocar seu pai nessa situação...
Ela disse:
-Curte aí, pai! Vamos soltar as mãos, vamos!
Quando por fim o brinquedo parou, procurei minhas pernas, elas demoraram a responder-me. Levantei-me meio trôpego e tratei de zarpar dali, feito um zumbi, me escorando em qualquer corpo antes que ligassem aquela geringonça outra vez.
-E aí, como foi? – minha mulher perguntou.
Minha menininha logo respondeu:
-Foi top, mãe.
Eu apenas cochichei aos ouvidos da minha esposa:
-Nunca mais, mas nunca mais mesmo, você deixa seu marido fazer uma burrada dessa.
Filhota no bate-bate
Sobrinho no bate-bate

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