Caminhando no canal de sua excelência
Agora minha esposa com essa história de caminhada. Fazer caminhada. Caminhar já me dá uma descoragem, quanto mais fazê-la. Prefiro arrastar me vagarosamente até um local onde possa me encostar e recostar. Mas, para agradá-la e dar um apoio moral nessa empreitada de saudável e de "qualidade de vida", acompanho-na até o bendito Canal da Cidadania, que é obra e graça de sua excelência, o prefeito afastado Tonim Correia (o pobrezinho nem teve tempo de inaugurar essa maravilha, correram com o homem antes disso), local onde minha senhora se juntará a umas dezenas de figuras que caminham num perímetro meio-retangular-meio-oval na escuridão da noite quente buritisense, certos que dessa maneira espantarão um punhado de doenças. Sedentarismo. Caminhe. Mexa-se.
Eu, particularmente, prefiro sentar-me em um desses bancos de madeira envernizada que oferecem uma vista sinistra dos vultos na penumbra do que consumir minhas suadas calorias nesse "círculo" vicioso. Essa gente em órbita no fusco me chapisca um pontinho de receio. Parece que flutuam por sobre as pistas como fantasmas presos em um caminho meio-circula-meio-retangular-meio-oval. O a catinguinha própria daqui está cooperando. O odor que sobe do córrego barrento que escorre no fundo do canal é mais agradável. Huuuummm... aroma de barro velho sossegado... Em vista de certos dias que é de dejetos humanos expelidos dos canos que vazam noite e dia nesse parque, poetisa. A gente olha os canos que vem do sabe-lá-de-onde e eles estão escorrendo aquela fita de água ora cristalina, ora turva; ora fina como lâmina, ora espessa como um creme... Mas o odor não lembra nenhum tipo de comida ou bebida. Não que eu conheça, nem.
Escuro. Lá do outro lado da vala os crentes começam o culto. Cantam. Uma voz de soprano sofrido sobressai. Ela está feliz. Opa! Vão "louvar" mais um hino. Que louvem. Leem a Bíblia. Estão caminhando para o Paraíso. Esse povo caminhando. Uns cuidam da saúde do corpos. Os da igreja da saúde da alma. E eu aqui no canal dando comida aos pernilongos. O sábio diz: Vai ter com a formiga, ó preguiçoso. Finjo que não ouvi.
Um pouco de luz chega até a pista. Mas tão fraquinha que serve mais para valorizar a escuridão do Canal. Minha esposa e seus parceiros vão orbitando. Passam uma vez, duas, três... Vixe, estou até ficando tonto. Melhor parar de contar. Só observar mesmo.
Observo. E só de observar essa gente caminhando com passos ligeiros já fico cansado. Recosto a cabeça no banco para descansar-me do cansaço da visão. Fecho os olhos. Cheirinho de barro podre, espesso. Zumzum das vozes do aquém passam ligeiros. Som macio dos tênis... lap lap lap, som das chinelas de dedos de alguém correndo... Peraí, gente fazendo cooper de chinelo de dedo... Cooper nada, isso é uma carreira louca e desenfreada mesmo. Só aqui no Canal da Cidadania que sua excelência, o prefeito afastado Tonim Correia, construiu. Mas, viva a democracia! Viva a saúde! Como dizia Paulinho Cintura: "Saúde é o que interessa e o resto não tem pressa!"
Eu, particularmente, prefiro sentar-me em um desses bancos de madeira envernizada que oferecem uma vista sinistra dos vultos na penumbra do que consumir minhas suadas calorias nesse "círculo" vicioso. Essa gente em órbita no fusco me chapisca um pontinho de receio. Parece que flutuam por sobre as pistas como fantasmas presos em um caminho meio-circula-meio-retangular-meio-oval. O a catinguinha própria daqui está cooperando. O odor que sobe do córrego barrento que escorre no fundo do canal é mais agradável. Huuuummm... aroma de barro velho sossegado... Em vista de certos dias que é de dejetos humanos expelidos dos canos que vazam noite e dia nesse parque, poetisa. A gente olha os canos que vem do sabe-lá-de-onde e eles estão escorrendo aquela fita de água ora cristalina, ora turva; ora fina como lâmina, ora espessa como um creme... Mas o odor não lembra nenhum tipo de comida ou bebida. Não que eu conheça, nem.
Escuro. Lá do outro lado da vala os crentes começam o culto. Cantam. Uma voz de soprano sofrido sobressai. Ela está feliz. Opa! Vão "louvar" mais um hino. Que louvem. Leem a Bíblia. Estão caminhando para o Paraíso. Esse povo caminhando. Uns cuidam da saúde do corpos. Os da igreja da saúde da alma. E eu aqui no canal dando comida aos pernilongos. O sábio diz: Vai ter com a formiga, ó preguiçoso. Finjo que não ouvi.
Um pouco de luz chega até a pista. Mas tão fraquinha que serve mais para valorizar a escuridão do Canal. Minha esposa e seus parceiros vão orbitando. Passam uma vez, duas, três... Vixe, estou até ficando tonto. Melhor parar de contar. Só observar mesmo.
Observo. E só de observar essa gente caminhando com passos ligeiros já fico cansado. Recosto a cabeça no banco para descansar-me do cansaço da visão. Fecho os olhos. Cheirinho de barro podre, espesso. Zumzum das vozes do aquém passam ligeiros. Som macio dos tênis... lap lap lap, som das chinelas de dedos de alguém correndo... Peraí, gente fazendo cooper de chinelo de dedo... Cooper nada, isso é uma carreira louca e desenfreada mesmo. Só aqui no Canal da Cidadania que sua excelência, o prefeito afastado Tonim Correia, construiu. Mas, viva a democracia! Viva a saúde! Como dizia Paulinho Cintura: "Saúde é o que interessa e o resto não tem pressa!"
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